A vitória do guilty pleasure

Rihanna e a arte da capa de ANTI feito pelo artista Roy Nachum.

Comecei a gostar de musica muito novo. Sempre prestando atenção nos discos que rolavam em casa, ou dando aquele rolê de carro ouvindo Alpha FM no banco de trás do gol quadrado do meu pai.
Meus primeiros CD’s adquiridos foram nas festinhas de fim de ano da escola, onde rolava o tão famigerado amigo secreto. Nos primeiros anos eu não entendia nada da musica que estava rolando, então sempre pedia o que meus amiguinhos e amiguinhas pediam. 
Eis que nessas brincadeiras acabei ganhando o primeiro CD das Spice Girls (Spice,1996) e o segundo dos Backstreet Boys (Backstreet’s Back, 1997).
Ouvi os dois intensamente, em casa, no carro durante viagens e em diversos momentos.
Bom, a partir daí começou minha guinada pro rock. Muleque bôbo. 
Aos poucos descobrindo novas bandas e novos discos. 
Dias inteiros na frente da MTV para ver aquele clipe maneiro do Korn.
E quem é dessa época lembra, se não tava tocando new metal, tava tocando pop. Britney Spears, Backstreet Boys, Christina Aguilera, N’Sync, Five, Jennifer Lopes, Jannet Jackson, milhares de artistas fazendo aquele som chiclete, cheio de fórmulas para vender e tal e coisa. Os grupos eram sempre elaborados para ter vários personagens (o bonzinho, o bad boy, o fortinho…) que preenchessem diversos tipos de vazio no coração dos adolescentes.
E eu sempre gostei. As vezes fazia tipo, pra dizer que não, que era roqueiro (ai, adolescentes), mas não resistia a Baby, One More Time.
Com o tempo fui ficando um pouco menos bôbo e realmente admitindo que gostava da “tal musica” para o mundo. 
Tudo isso pra dizer que meu disco favorito deste ano é um disco da Rihanna, o ANTI.
Cara, como eu detestava o primeiro single de grande sucesso dela, Umbrella. Aquela musica que gruda, e ainda fizeram um bilhão de versões diferentes. Chata Chata Chata.
Realmente, dentro do reinado Pop eu julgava a Rihanna apenas mais uma "wannabe" Beyoncé (outra que nunca gostei muito e continuo torcendo o nariz apesar de a qualidade dos discos dela estar sempre melhorando).
Mas de uns tempos pra cá vejo ela sempre amadurecendo. Entrando em contato com novos estilos, culturas e suas próprias origens. Sendo deletada do Instragram por postar fotos desnudas dela própria. Simplesmente fazendo o que lhe dá na telha.
Voltando ao ANTI. Um disco no mínimo intrigante para os que torcem o nariz. Com excelente melodias vocais, batidas e produção. O disco é tão bom que as primeiras quatro musicas são quatro excelentes singles. Tem também um cover de Tame Impala (olha que inesperado e legal ao mesmo tempo) que apesar de ser extremamente parecida com a original, tem uma interpretação melhor, por tanto nem ouço mais a do Tame Impala. Pobre Kevin.
Interessante notar que se você pegar as listas de melhores álbuns deste ano (2016) vai perceber alguns medalhões da musica formulenta lá no topo. Além de Rihanna estão Beyoncé e Lady Gaga. 
Até Justin Bieber lançou um álbum mais interessante este ano.
De repente é legal fazer um disco desafiador, com produção esquisita e letras relevantes.
Pode ser apenas mais uma jogada de gravadora para dar credibilidade a estes artistas pop, fazê-los adentrar listas de melhores do ano e cavar novos nichos de venda.
Ou realmente os artistas estão se bancando, mostrando a que vieram e que não são apenas marionetes de gravadora como eram há 20 anos atrás.
Tudo isso merece um estudo muito mais aprofundado do que este pobre texto que vos apresento.
Só sei que quero um vinil do ANTI na minha coleção.



Antes que o hype te faça odiar…Benjamin Booker.



É comum nos anos 2000 a prática de hypar certas bandas onde se encontra possibilidade de comercialização.
A prática de hypar é bem antiga, praticamente desde que existe indústria fonográfica. Mas o lance é que com a vinda da internet, e ainda mais, o Facebook, você pode sentir certas bandas martelando na sua cabeça mesmo que você realmente não queira.
E, ao menos que você se tranque no banheiro até o hype passar, vai ouvir falar dessas bandas.
Foi assim com praticamente todas as “grandes bandas” dos anos 2000 e 2010. Quem vai salvar o rock? Strokes, Arctic Monkeys? Tame Impala? Bla bla bla.

Outra prática comum, só que agora de quem se diz “entendido” de música, é odiar as bandas propagadas pelo tal hype.
Já caí do cavalo e me surpreendi tanto com essas bandas, que hoje em dia dou chance para todas. Independente do quanto falam por aí, ou toquem na 89 fm. Enfim...

Meu faro me diz que o próximo grande hype será em cima deste cara, Benjamin Booker.
O disco dele sai oficialmente amanhã, então se prepare e segure sua onda, porque o cara é realmente bom e vai estar todo mundo falando dele. 
Então, antes de começar a odiá-lo, dê a ele uma chance. 

Benjamin nasceu na flórida no ano de 1989, mudou-se há dois anos para Nova Orleans para tentar a sorte como músico. Começou tocando e cantando violão sozinho, tempos depois passou a ensaiar com seu amigo de longa data Max Norton na bateria e por fim encorporou Alex Spoto no baixo.

Seu som tem o dom de agradar gregos e troianos. Timbres de guitarra excelentes, sempre abrilhantados com um pouco de Fuzz (em alguns momentos muito Fuzz), um vocal suave e rasgado ao mesmo tempo, que poderia facilmente emular a voz de Kurt Cobain, mas que tem uma personalidade muito forte (me lembra um pouco o vocal do Phil Lynott do Thin Lizzy). 
Músicas que são tanto pra sacudir o esqueleto, quanto para ouvir em casa, tranquilo.



Há músicas em seu disco que vão mais pro lado do folk, em outros mais psicodélicos, mas em geral é um Garage Pop (inventei agora o termo). Tudo executado com muito bom gosto.
Com um single poderoso, Violent Shiver, esse rapaz de 25 anos vai longe.

Além de que ele é apadrinhado por ninguém menos do que Jack White. Que já há algum tempo vem rasgando elogios pro rapaz (ele diz que Jack foi seu primeiro herói na guitarra), inclusive chamando-o para abrir seus shows. 
Até agora ele já coleciona excelentes participações em programas como David Letterman, Conan O'Brien e KEXP.
O hype virá e não será pouco: bela voz, bom single, Jack White, Fuzz. O que não faltam são tags para hypar o nome de Booker.


Toda sorte do mundo pra ele enfrentar bem essa barra, porque talento ele já tem.

Nesta página do The Guardian você consegue ouvir o disco inteiro do rapaz em Stream.
http://www.theguardian.com/music/2014/aug/11/benjamin-booker-benjamin-booker-exclusive-album-stream


Dez discos importantes pra mim.

Tá rolando uma onda de uma brincadeira no faceboobs de postar os dez discos que foram importantes na sua vida. Eu sempre tive vontade de fazer essa lista e até hoje não fiz. Diversos amigos estão me marcando para fazer isso, mas como eu gostaria de elaborar melhor essa minha lista decidi postá-la no blog pra poder contar um pouco melhor sobre as minhas conexões com esses discos.

The Dark Side of The Moon - Pink Floyd

Um dia, do nada, meu pai apareceu com esse cd do Pink Floyd dizendo que era algo realmente bom e que eu deveria ouvir, acho que eu tinha uns 10 anos. Hoje penso que foi muito estranha essa atitude por parte do meu pai, que apesar de ser uma pessoa musical em sua maneira, não gosta muito de rock. Foi um cara das discotecas, do Bee Gees e tal.
Deixei esse disco de capa estranha encostado durante uns 3 anos. Até que por influência de um amigo na escola que vivia com camisetas do Pink Floyd por aí eu comecei a ouvir. Deve ter sido o disco que mais ouvi na vida. Isso porque durante uns 2 anos eu chegava da escola, almoçava, deitava na cama e colocava o Dark Side pra tocar.

Nevermind - Nirvana

Certo dia estava eu vendo Mtv quando passa uma vinheta que era simplesmente um cara andando com um Gol quadrado conversível numa paisagem rural escutando Smells Like Teen Spirit. Na hora aquele som me chamou a atenção. Só fui descobrir a musica cerca de um mês depois num antigo programa da Mtv chamado Dataclipe. Comprei o cd, rasguei minhas calças e mudei meu nick no saudoso ICQ para Edu-Grunge.

Ok Computer - Radiohead

Este foi meu companheiro de depressão depois que terminei a escola. Estava totalmente perdido sem ter ideia do que seria a vida após a escola. Tentando entender a todo custo esse novo mundo de faculdade e gente adulta que não me fazia sentido. Good Times, BAD TIMES.
É uma obra prima da mais pura depressão.

Appetite for Destruction - Guns n Roses

O Guns foi muito importante pra mim. Nunca foi minha banda favorita mas por causa dela e um cara chamado Atila é que eu sou guitarrista até hoje. Desde que ganhei minha primeira guitarra sempre a tratei como um hobby, até que um dia fui convidado para tocar num Guns n Roses cover e aí então passei a estudar, entender e a tocar guitarra direito.

Fungus Amungus -  Incubus

Estava eu nessa minha fase Guns n Roses/Hard Rocker curtindo umas noitadas de banda cover, sendo um falso rock star e tals, até que me aparece esse disco num jantar em um restaurante mexicano quando eu estava de férias em Ubatuba. Meu queixo caiu junto com meu cabelo comprido. Esse disco é absurdamente bom e me transformou na primeira ouvida. Uma mistura de Red Hot com alguma coisa mais pesada, o tal de Funk Metal. Tive uma longa fase de curtir funk por causa desse disco. Foi um momento de grande ruptura na minha vida.

Californication - Red Hot Chili Peppers

Foi um amigo meu da praia que me apresentou o disco. Eu estava em sua casa de bobeira e ele coloca o disco num volume bem alto. Eu dei um pulo ao escutar as primeiras notas de Around The World. Eu devia ter uns 10 anos na época. Foi amor a primeira ouvida. Pirava muito nos "don don den den" no final da primeira musica. Esse disco carrega muito sentimento da banda, é aquela história que todo mundo conhece: o Frusciante voltando pra banda após ter passado 5 anos trancado em casa injetando heroína, o Antony num periodo sóbrio, o Rick Rubrin querendo que eles soassem como uma nova banda. Deu no que deu, um dos melhores discos da história.

The Best of The Doors -  The Doors

Tive uma fase pesada de só escutar Doors.
Certa fez eu fui viajar para o sítio de uns tios e levei meu recém ganhado disc man. Pois é, mas esqueci todos os meus cds. Chegando lá comecei a fuçar as disqueteiras de geral até que descobri esse cd perdido entre clássicos da péssima musica brasileira e mundial. Passei todos os dias ouvindo esse cd. Acabava, começava, acabava, começava. Break on Though, Light My Fire, People are Strange e por aí vai. Uma prima na época soltou a frase "esse menino respira musica!", é eu sou assim mesmo.

De-Loused in the Comatorium -  The Mars Volta

Já contei minha história com esse disco aqui no blog. Realmente foi uma banda que uniu diversos universos e aproximou pessoas de estilos distintos. É um eterno clássico, disco bom do começo ao fim. Pra você enterrar seus ouvidos nele e se perder no coma proporcionado durante uma hora.

Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt - John Frusciante

Se você acredita em musica visceral, aqui está ela em seu mais belo estado. Primeiro disco solo do John é movido inteiramente pela dor de estar perdido no mundo, atormentado pelos seus próprios demônios e viciado em heroína. É assustador e belo ao mesmo tempo. Não é preciso estar afinado, ou superproduzir o disco, apenas coloque seu coração na musica e ela soará verdadeira, tocando o coração de quem ouve.

Goo - Sonic Youth

Então amigo, esquece tudo o que você conhece sobre tocar guitarra e crie um novo estilo. Foda-se os solos, foda-se caras que sobem e descem escalas na velocidade da luz tipo Yingwe Malmsteen.
Sonic Youth inventou um novo jeito de tocar, não só guitarra, como bateria e baixo. E me libertou dos moldes. Agora tudo é possível. Algo parecido com o que os Ramones fizeram nos anos 70, só que agora de um jeito mais livre ainda. A cada nova afinação criada eles tem um novo jeito de tocar o instrumento, aí você pensa que é uma afinação pra cada musica do disco.


É nói.





É, quero viver de música...


“Não existem mais desculpas que justifiquem o desconhecimento. Só o autentico desinteresse.” Felipe Hirsch
No fim de 2012 eu propus para mim mesmo que em 2013 eu teria que ouvir o maior número de musicas novas e diferentes possíveis. Agora, em dezembro de 2013, sinto que está missão foi cumprida com louvor. Viva para mim!
Este foi o ano foi o primeiro em que consegui olhar mais pra frente do que para trás, como de costume. Finalmente superei os clássicos e me joguei nessa selva que são as musicas e as bandas da era pós internet. Consegui provar algo que há muito tempo eu pensava mas que não tinha conhecimento o suficiente para afirmar: o fato de hoje em dia as bandas serem tão boas quanto em qualquer outra época.
Pra quem gosta de rock o mais fácil é sempre ser saudosista. Ficar transitando nas décadas passadas, cavando fundo na história e nunca olhar pra frente, ou para o presente. Para as bandas da sua cidade, que seja.
Hoje sei que o rock nacional vive um de seus melhores momentos, com bandas geniais surgindo a todo instante. Mas que ao mesmo tempo tem um grande problema: não conseguem sair do underground. As mídias de massa simplesmente ignoram o rock desta geração, preferindo ficar onde mora o dinheiro. Sendo no momento atual o sertanejo universitário, ou o funk. Enfim...
Além de, darem preferencia aos gigantes do rock que estão baixando por terras tupiniquins de dois em dois meses cobrando ingressos a valores astronômicos. Não que isso seja ruim (exceto pela parte dos valores, que é sempre ruim). Em algum momento de nossas vidas é tudo o que pedimos, ver os shows dos grandes astros. Mas é preciso dosar as coisas, dar força pro mercado nacional. Todo mundo ganha com isso.
2013 também foi o ano que decidi, após ter enrolado 7 anos, que eu quero viver de musica. Seja compondo/gravando/fazendo show, escrevendo, divulgando, entrevistando, etc. Para 2014 tenho a ideia de um programa musical para internet.
Ano que vem meu grande objetivo é gravar minhas musicas. Porque realmente preciso disso, não importa se vão gostar, se vão comentar. Quero fazer porque preciso me expressar e tirar esta quantidade de musicas que compus, e considero boas, do meu ombro e da minha cabeça.
Outra boa surpresa deste ano foi ter começado a escrever pro site Scream & Yell. Aproveitando as facilidades do terrível, porém útil, Facebook para entrar em contato com o Marcelo Costa, que comanda o site. Para minha surpresa ele liberou minha criatividade e me impôs o desafio de escrever um texto mais impessoal. Meu primeiro texto custou a sair, toda a informação dentro da cachola mas a necessidade da impessoalidade me fez reescrevê-lo diversas vezes. Sendo que ainda acho que poderia melhorá-lo. Já o segundo saiu de maneira um pouco mais tranquila, mais solta. Tive o grande privilégio de obter mais de 350 likes e ser um dos textos mais visitados no site do mês, falando sobre o Stoner Rock brasileiro. Simplesmente porque vi que tem muita banda brasileira caindo pra este lado e não há muita gente comentando. Acho que o texto fez com que muita gente do estilo se conhecesse. Missão cumprida!
Espero escrever muitos textos mais, e a cada dia me apaixonar novamente pelo rock como um adolescente que ouve Nirvana ou Led Zeppelin pela primeira vez.



Abaixo uma lista de bandas nacionais que ouvi bastante em 2013:

Lupe de Lupe – Banda de BH que faz um noise com belíssimas letras e uma interpretação visceral.
Boogarins – Goianos que fazem psicodelia olhando pro futuro.
Chacon – Som que me lembra Cidadão Instigado só que mais roqueiro. Com timbres matadores e sempre com um pézinho no brega. Chacon é de Recife.
Apanhador Só – Uma banda que eu realmente não gostava conseguiu me surpreender com seu segundo disco.
Ronnie Von – Há muitos anos eu baixei os discos da fase psicodélica do Ronnie, de 68 até 70, mas só este ano vim a ouvi-los com maior cautela. Pra perceber que, de fato, é um cara genial. Exatamente no meio entre Mutantes e Roberto Carlos.
Raul Seixas – Eu era um preconceituoso com a obra de Raul. Hoje sou fã devoto, daqueles que quer tatuar o símbolo da sociedade alternativa.
Giallos – Meus conterrâneos do ABC paulista fazem um blues sujo com letras que dariam ótimos roteiros de filmes do Tarantino. Genial!
Clube da Esquina – Este foi um que passou praticamente 2013 inteiro no meu mp3 player. Não há nada que não seja genial no primeiro disco do Clube da Esquina.
Nuda – Outros cara fodas de Recife que sabem dosar bem a musica regional com o rock. Timbres perfeitos na gravação do álbum “Amarénenhuma”. Uma pena que a banda acabou.
Moraes Moreira – O primeiro disco solo do cara é pura roqueiragem. Quebradeira total!
Tape Rec – Banda de Lê Almeida, um dos maiores entusiastas do faça você mesmo no Brasil. Noise pop delicinha.
Júpiter Maçã – Meu deus, por que eu demorei tanto pra ouvir A Sétima Efervescência? Ainda me pego rindo de algumas sátiras nas letras do Júpiter.
Supercordas – “A Mágica Deriva dos Elefante” é um disco que todos tem que ouvir. O disco transborda bom gosto e genialidade.
Hierofante Púrpura -  A banda realmente me conquistou com “Espírito Espelho”, faixa genial do split com a banda Alarde chamado “Espirito de Faca”.

É NOISE em 2014!

Forte abraço